sábado, 2 de fevereiro de 2008

# VII - Poirot Precisa-se

"Explica de novo."
"Foi há duas noites. Acordei em pijama num dos caminhos do jardim da mansão."
"E não sabes como foste lá parar?"
"Não faço ideia. Nunca fui sonâmbulo. Mas lembro-me de sonhar, lembro-me que estava dentro da mansão."
"Talvez tenhas estado mesmo, talvez não fosse um sonho."
"Tinha de ser. Não estava em ruínas, havia candeeiros acesos, quadros nas paredes e vozes e ruídos de talheres na direcção da sala grande."
"E depois?"
"Depois, acordei no jardim, já te disse. Daí, fui para casa. Só quando cheguei a casa é que reparei na fotografia que tinha no bolso. Esta."
José passou-lhe para as mãos uma imagem amarelada e antiga, de um grupo de cinco pessoas que sorria em frente à Mansão, a assombrada Ville Belleville.
"Tens a certeza que não encontraste isto no jardim?"
José impacientou-se.
"TENHO!" As duas velhotas que bebiam chá na mesa ao lado olharam-no perturbadas. José baixou a voz, irritado.
"Mil vezes, tenho. Quantas vezes fomos à Mansão à procura de fantasmas?"
"Todos os miúdos fizeram isso, nós só..."
"Alguma vez encontramos fotografias antigas espalhadas pelo jardim? Nem na casa, porquê no jardim? Ouve. Ontem fui à livraria, trouxe uns livros sobre Belleville. Ao que parece, Ville Belleville foi abandonada nos anos quarenta, depois de um violento incêndio. Ninguém sabe como o incêndio começou. Não houve mortos nem feridos. Na casa estavam dez pessoas, cinco convidados e os criados, mas nenhum dos livros fala em nomes, para além da dona, a Belleville. Cinco pessoas! Esta foto, cinco pessoas. Percebes agora?"
"Sim. Então e isso..."
"Isto" repetiu José desdobrando o pedaço de jornal, tão velho que parecia desfazer-se."Isto, vinha embrulhado num tijolo da Mansão que aterrou na minha sala esta madrugada. Repara. É a Belleville, é a notícia do incêndio. Agora, compara com a foto. Esta Belleville do jornal é a mesma que aparece nesta foto, aqui no meio. Mais nova, sem dúvida, mas é a mesma pessoa."
"Mas quem podia saber o que te tinha acontecido? O que tens tu a ver com o incêndio?"
"Não sei, eu..." José estacou, com a boca aberta num trejeito ligeiramente estúpido. "Onde é que arranjaste esse anel?"

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