domingo, 20 de janeiro de 2008

# II - "Mas que raio...?"

O seu lento virar de cabeça pareceu demorar anos. José não estava, definitivamente, habituado a ver coisas com sombras grandes, pelo menos não atrás de si. Recordou-se, num instante de estupidez pura, de um dia de sol em que vira uma mulher estupidamente gorda a lançar sombra para um grupo de cerca de oito crianças. Quase se ria com essa situação, não fosse o facto de estar a ser quase engolido por aquela sombra.

Finalmente a sua cabeça acabou a rotação e viu, horrorizado, uma mulher enorme, a mesma daquele dia de sol, seguida do segurança da livraria, aquele estupido simio.

- Pode devolver-me o anel? - perguntou uma voz gutural que José percebeu, enojado, vir da garganta da mulher. Aqueles lábios carnudos, aquele queixo de sapo, as bochechas a moverem-se sem que ela falasse. Uma imagem retirada de um filme de terror e depois estava aquele macaco estúpido, o raio do segurança, com um ar de quem ganhou a lotaria.
- Qual anel, minha linda senhora? - respondeu José a custo, Toda aquela situação o desagradava, principalmente porque estava com pressa. Tinha de resolver o seu problema mais premente, aquele que o levara à livraria nessa tarde, e tinha de ler os livros antes que fosse tarde demais.

Sem comentários: